quarta-feira, 21 de setembro de 2011

MOVER É AGIR

Mover é agir, o corpo que dança não encena algo ele está algo. Embora, durante muito tempo em sua história a dança estivesse ligada a um processo narrativo ( balé romântico,)ela é assim como a poesia um modo ineficaz para se contar histórias. A dança deve ser capaz de se transformar a cada vez que vai para cena, assim como a performance do bailarino que jamais deve estar num processo finalizado, segundo Louppe não basta apenas articular um gesto emprestado de outra técnica e sim tudo que o bailarino pensa de mundo que deve estar sempre se modificando e se misturando com a sua dança.

Para se construir um espetáculo, muitas vezes é adotado certo tipo de técnica codificada. Dito de outro modo, a crença de que a expressão artística em dança deve sempre estar atrelada a técnicas fixas( lepecki,1999:3)Técnicas são construídas segundo regras , estas regras não surgem naturalmente, e sim de uma necessidade de se chegar a um resultado, toda técnica propriamente dita tem sua forma, mas não são e nem podem ser uma exigência absoluta para o valor artístico de uma obra. Se qualidade artística se confunde com qualidade técnica é porque algo esta preso na habilidade da fabricação, aquilo que determina o caráter artístico de uma obra “ são de outra natureza , mais complexa, mais arbitrária que o julgamento puramente técnico (COLLI 2002:17).Comte Sponville (2002) distingue uma da outra:”A técnica não é tudo. Antes de ser reprodução ou habilidade a arte é primeiramente desvendamento, instauração ou aplicação de uma verdade.

Mas as noções de arte, tanto quanto as de técnica e corpo, são também atribuições culturais, Segundo o filósofo Merleau-Ponty a maneira de o indivíduo ver e sentir o mundo interfere no corpo: “(...) Tudo o que sei do mundo, mesmo devido à ciência, o sei a partir de minha visão pessoal ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência nada significariam.” (SIQUEIRA, 2006:45). Desta forma Merleau-Ponty vê em seu próprio corpo seu ponto de vista sobre o mundo. “O corpo não seria apenas um objeto físico e sim 'aparência' de uma interioridade”. (SIQUEIRA, 2006: 49).

Um outro fator que também interfere nos processos de organização técnico-corporal estão relacionados ao como a dança é transmitida para o corpo.Segundo Sylvie Fortin(2003), um dos paradigmas ainda dominantes nas salas de aula está relacionada a adoção de “ práticas corporais ligadas a representação do corpo” que o colocam num lugar de reprodução, a aparência externa do movimento e o uso do professor como imagem , como se este fosse o modelo ideal a ser seguido pelo aluno. Já outras práticas de dança aonde o foco é a experiência do corpo, concentram-se mais na qualidade interna da vivencia valorizando a experiência individual de cada um, os vínculos entre interior/exterior do corpo precisam estar presentes na dança só assim será possível ao interprete perceber-se como um conjunto em relação atuando no espaço- tempo: sujeito que á medida que se move, é capaz de conscientemente sentir, pensar, julgar, apreciar, afetar-se enfim envolver-se de maneira coesa e harmoniosa com seu movimento. A relação entre materialidade visível do corpo e sua interioridade intangível.

Eraldo Alves

Graduando do curso de dança da FAP.



2 comentários:

  1. Eraldo Alves menciona Merleau-Ponty, onde diz: "a maneira de o indivíduo ver e sentir o mundo interfere no corpo" assim tando no corpo sua forma de ver e levar a vida. Vejo na dança do bailarino Eraldo Alves, uma busca pelo novo, de encontrar novas possibilidades de se relacionar com o movimentos fazendo novas negociações com o ambiente assim junto descobrindo e construindo um novo modo de estar no mundo. Essas novas descobertas reflete na sua dança, onde começa abrir novos poros, e esse corpo fica mais flexível a novas formas de se mover.
    Carlos Mendonça- FAP

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  2. Eraldino, que belezinha de ver os rumos que seu trabalho vem tomando, enquanto te via dançar pensava " mas como ele é bonito movendo", no entanto o melhor de tudo veio depois, quando você mesmo disse que aquilo você já sabe fazer e que é preciso transformar. Mas oras bolas, não estamos em constante transformação?
    Sim, estamos e sabemos bem disso, mas é aquilo, em que medida essa transformação é interessante?
    Pois existem coisas que mudam apenas sua superfície e é aí que nos enganamos achando que estamos transformando de fato.
    Bom meu querido, venho aprendendo que o movimento de transformação é elementar para que haja vida, mas acho que temos que pensar pra onde essa transformação nos leva, pois elas estão SEMPRE nos levando a algum lugar.
    Ponha seus pés no chão, escolha onde quer estar, pra quê, com quem e siga permitindo que a mudança esteja contigo mas não esqueça nunca onde está, onde quer chegar e o que de fato está mudando!

    Beijo com carinho, Mari!

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