sexta-feira, 30 de abril de 2010

Olhos que ampliam..


Falar e formular células coreográficas a partir de uma estrutura tão importante do corpo humano requer muita pesquisa e experimentação. A coluna vertebral serve de apoio para outras partes do esqueleto e inicia toda a movimentação do corpo. Minha pesquisa inicial teve como ponto de partida a imagem da própria coluna e suas partes, mais especificamente a primeira e ultima vértebra – atlas e cóccix . Para mim, a imagem das vertebras interligadas faz lembrar circulos concêntricos , meus movimentos então seriam em espirais, experimentando a oposição de cada parte do corpo . Todo o movimento deveria partir da primeira vertebra, o Atlas que se articula com o crânio possibilitando flexão e extensão da cabeça sobre a coluna vertebral cervical, bem como suportando todo o seu peso. A cabeça também foi o tema central da pesquisa, pois ela é de suma importância para toda a vitalidade do ser humano. Nela situa-se o cérebro, responsável por toda a fisiologia do corpo, os nossos sentidos : tato, olfato, paladar, audição e visão. Estes responsáveis pela comunicação e expressão com o mundo. Especialmente os olhos, que nos faz estar, expressar e expandir o mundo.

Depois de escolhidos e devidamente pesquisados os temas iniciais - coluna, espirais, cabeça e olhos – parti para a experimentação no corpo. Deixar os padrões e os “pré – conceitos” é a primeira coisa a se fazer, também a mais difícil, é preciso estar aberto a trocas, informações e aos acontecimentos. Passou-se alguns dias para que eu começasse realmente o processo de experimentação, pois apesar de se ter os temas iniciais, a inspiração e a identificação ainda não me haviam ocorrido. Comecei a ter a primeira percepção: meus olhos, que por muitas vezes não estavam realmente “abertos” e presentes para o que acontecia a minha volta e enquanto eu me movimentava. Problema este quase geral dos dançarinos. Se os olhos não “vêem”, como se dá a expressão e a comunicação com o mundo?

Meus movimentos então partiram dos olhos, que cada vez mais tentavam ampliar o campo de visão. Trabalhei com a sensação de limite, quando os olhos já não conseguiam mais chegar por si só, a cabeça entrava em ação. Em espiral, vértebra por vértebra se movimentava, ainda na sensação de limite e oposição. Os olhos sempre iniciavam o movimento na tentativa de enxergar e ampliar todo o ambiente. As extremidades do corpo seguiam por conseqüência das expirais e tornavam-se apoio. Por muitas vezes as pernas e/ou os braços necessitavam chegar antes da coluna ou até mesmo dos olhos para que o corpo pudesse se estruturar e se equilibrar.

Tenho a sensação do corpo em partes, que num movimento continuo se estruturava a partir das necessidades e dos acontecimentos, iniciados pelos olhos que cada vez mais busca enxergar, ampliar, expandir, expressar, comunicar, acompanhar o mundo e carregar experiências de uma vida inteira.

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