domingo, 3 de outubro de 2010

SEMPRE QUERO ESTAR COMO UM SER HUMANO


Por que preciso de tanto dinheiro, de tanta riqueza? O que justifica a matança de vários seres humanos nas guerras? Por que um sentimento de futilidade e desespero lança sombras à humanidade? Essas e muitas outras questões deveriam estar na mente da humanidade. Mas mesmo que essa consciência não esteja presente nas pessoas, faremos com que seja na nossa arte/dança e revelaremos possíveis soluções.


Neste bimestre, a professora Rosemeri Rocha, da disciplina de Composição Coreográfica I, nos propôs um desafio: de realizar um trabalho em dupla, sendo que deveríamos unir/relacionar as nossas propostas coreográficas (do 2º bimestre), e como resultado, apresentar uma performance em um espaço alternativo.
O que poderia dizer em relação à semelhança entre o meu trabalho e o da Sylviane, seria que nós duas falamos sobre o ser humano, sobre as suas dificuldades, sobre os seus erros, as suas tendências negativas, etc., ou seja, sobre o nosso desenfreado egoísmo que nos levam ao mamonismo (culto ao dinheiro) e ao niilismo (a falta de valores):

“O niilismo é comumente atribuído a Friedrich Nietzsche (1844-1900) por sua afirmação da morte de Deus. Convém notar, entretanto, que não se trata de um fenômeno exclusivamente europeu. Tem genealogias múltiplas no pensamento oriental. Uso aqui o termo em referência à patologia da civilização que paira como um miasma sobre o desolado panorama humano ferido pelas contradições da globalização. Essa tendência é visível no Japão, no teor quase sempre pessimista do discurso. A razão disso, acredito, não se limita ao fim da era de consistente crescimento econômico. Essa decadência é caracterizada pelo pessimismo e niilismo que difere da experiência das pessoas durante a Grande Depressão da década de 1930, quando o socialismo era colocado como alternativa para o sistema em vigor. O atual pessimismo parece o oposto da energia frenética de uma bolha inflacionária, mas na realidade, é simplesmente um aspecto daquelas contradições. O cientista político francês Emmanuel Todd faz a seguinte análise do que chama de ‘culminação lógica’ da globalização centrada das finanças: ‘Ao querer ‘libertar o indivíduo’ de qualquer pressão coletiva, só conseguiu fabricar um anão amedrontado e desanimado, que procura a segurança na divinização e no entesouramento do dinheiro’. O reverso do mamonismo (culto do dinheiro) é, em outras palavras, o niilismo. Aspectos que parecem diametralmente opostos são, na realidade, gêmeos nascidos da civilização moderna. São produtos desta era que poderia ser chamada de ‘era da perda de valores’.[...] O objetivo básico da civilização moderna é fazer da capacidade econômica — a habilidade para o maior lucro possível e o acúmulo de riqueza — o critério único do valor humano. Esta tendência crônica da civilização capitalista moderna — alimentada pela expansão sem limites da ambição — permanece essencialmente incorreta mesmo depois do experimento devastador do comunismo soviético.” (IKEDA, 2010, p. 7)

Enquanto o homem progride tecnologicamente, os padrões de moralidade humana tendem a declinar. A causa desse declínio tem sido a tola ilusão de que o poder conquistado pelo progresso tecnológico pode substituir os altos padrões morais. Romper com essa ilusão deve ser o ponto de partida do esforço para solucionar o dilema com que hoje o homem se debate, um dilema que ele mesmo criou.
O conteúdo do nosso trabalho aborda estas questões; mas agora falarei a respeito da “forma” da nossa dança, no que resultou a prática.
Eu acredito que a dança tenha a função de simplificar os assuntos mais complicados, e então aproximar as pessoas das diferentes idéias e pensamentos. Seguindo essa linha de raciocínio, o nosso fazer artístico se “resume” no ato de andar/caminhar, onde esse ato “está entre os gestos mais significativos para ilustrar a identidade mutante do indivíduo. O caminhar, movimento natural do ser humano, dependendo da maneira como é executado, possui diferentes significações.” (MENDES, 2010, p. 115)
Temos o pensamento errôneo de que a solução dos problemas estaria na liberdade na aquisição material e a liberdade na pressão coletiva, mas isso só nos leva a formação de um ser humano menos humano e infeliz, onde procura segurança na concretização dos seus desejos sobre o sacrifício da natureza e da humanidade. Mas queremos mostrar o contrário: quanto mais me relaciono com as pessoas/sociedade, e quanto mais percebo que não necessito de tantas coisas, mais me torno um ser humano pleno:

“Morin (2001) explica, por meio de sua teoria da complexidade, a ampliação cultural do ser pelo contato ‘com idéias e conhecimentos vindos de outras culturas’ (p. 46), o que, consequentemente, possibilita ampliar as próprias visões de mundo do homem. Para Morin (2000, p. 164 - 5), a identidade social é reforçada ‘pela confrontação com as outras sociedades, que embora tenham uma organização com base semelhante, se diferenciam pela linguagem, pelo mito genealógico e cósmico, pelos espíritos, pelos deuses, pelos símbolos, pelos emblemas, pelos enfeites, pelo rito, pela magia, quer dizer, pelos caracteres noológicos’.” (MENDES, 2010, p. 111)

Mas para simbolizar isso realizamos esta estruturação: mostrar essa variação, de que quanto mais me relaciono com as pessoas e quanto menos necessito de coisas/materiais mais me torno ser humano, através da ação de caminhar com uma demarcação no solo/espaço com círculos que vão do pequeno ao grande, em que uma vai do grande ao pequeno (onde percebo que não preciso de tantas coisas), e a outra vai do pequeno ao grande (em que ela percebe que existe a necessidade de se relacionar mais com as pessoas).
E na escolha da utilização de materiais foi: mostrar as nossas múltiplas e mutantes identidades (através da escolha de objetos que tenham um significado, algo que represente os nossos traços culturais), e a utilização de uma peça de roupa de cor fria e a outra de cor quente (para representar os nossos traços biológicos, o DNA).



“E se o fato de nos tornarmos quem realmente somos não acontecer através do esforço e da tentativa, e sim por reconhecer e aceitarmos as pessoas, os lugares e as experiências que nos oferecem o calor do estímulo de que precisamos para desabrochar?” (Oriah Montain Dreamer)

HADIJI NAGAO

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