sexta-feira, 30 de abril de 2010

Imobilidades

IMOBILIDADES

Em princípio, minha pesquisa tinha como mote a mobilidade das curvaturas naturais da coluna, explorando as hiper-cifoses e hiper-lordoses, tais como as extensões laterais e rotações. Como regra, a partitura não deveria permanecer nos lugares de curvaturas naturais (posição anatômica).
Experimentando algumas possibilidades, percebi que mesmo existindo a “regra” das hiper-possibilidades, os movimentos implicavam em poucas dificuldades, visto que muito se fazia no solo e em meu corpo tais implicações se tornavam pouco problematizadoras.
Passando para um segundo momento, pensando no texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” de Jorge Larrosa Bondiá, que fala em experiência e o que é realmente experiência, percebi que minha pesquisa se fazia muito mais no âmbito da confortabilidade do que do inusitado e novo (que define experiência), sendo assim, pensei em como problematizar tal partitura (experenciando-a de fato). Se a priori o mote era não permanecer na posição natural, a oposição seria em não distanciar-se dela.
A regra se fez diferente e a partir daí a pesquisa tomou outro norte: Movimentos corporais, nos planos alto, médio e baixo, intencionando não mobilizar a coluna, ou seja, não desestabilizá-la das curvaturas naturais.
Pensar em movimentos que não mobilizem a coluna vertebral é um tanto complexo, visto que movimentos acontecem por estímulos musculares, por sua vez cerebrais e medulares. Mas a intenção em não mobiliá-la foi o que me interessou. O estado em que este corpo se colocaria ao tentar mantê-la imóvel.


“... cada processo pede pela criação de novas estratégias de formalização, que irão se estabelecer a partir da exploração de novas competências corporais... Mas, como ocorre a investigação das possibilidades de existência de uma questão temática no corpo?”
(HÉRCOLES no texto sobre Corpo e Dramaturgia)


Como improviso me pus a experimentar algumas relações/movimentos em que a proposta se fizesse, buscando estratégias para compor a partitura (que fugissem do óbvio, que seria o uso apenas das extremidades, e que utilizassem os micros movimentos como apoio).


“A idéia de investigar a emergência do novo, a partir de inúmeras possibilidades de organização”
(GREINER no texto Dramaturgias do corpo e os seus processos comunicacionais)


Criar estados novos de organização tem sido o intuito desta pesquisa. Infelizmente necessita-se de tempo para que tal estado se estabeleça, e acredito não ter alcançado na prática (visualmente falando) o que intenciono em teoria. Mas o estado interno de atenção que busquei inicialmente foi realmente interessante.



Israel Becker, bailarino, pesquisador e graduando no terceiro ano no curso de dança da Faculdade de Artes do Paraná

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