Caroline Natalie Stroparo
Gato. Uma longa e flexível coluna vertebral. Estamos falando de 7 vértebras cervicais, 13 dorsais, 7 lombares, sacro e 18 a 26 vértebras coccíqueas. Uma coluna que diferente da maioria dos mamíferos, é unida por músculos ao invés de ligamentos. E ao invés de clavícula, pequena cartilagem clavicular. Seus apoios são extremamente articulares, o que torna sua caminhada suave e segura. Sua calda lhe proporciona uma capacidade de equilíbrio e de "reflexo corritivo" invejáveis, por isso sua capacidade de se ajustar durante uma queda muda a sua realidade de queda durante esta, para aterriçar ao invés de "cair". Sua capacidade articular, flexibilidade, reflexo e equilíbrio lhe proporcionam grande qualidade plástica. A qualidade que eu fui investigar.
Minha análise de movimento começou à partir do momento em que a Mimi chegou lá em casa, e tem me proporcionado grande fascínio. Eu que sempre admirei os felinos por sua habilidade e destreza, agora tinha um exemplar em miniatura para estudo pessoal.
Comecei logo de início constatando movimentos (séries) de rotina. A gatinha dorme entre 16 a 18 horas diárias, mas dorme em várias porções. Ao acordar, senta-se, levanta-se, esprigaça-se, e muitas vezes deita e dorme novamente. Quando não isso, pude compreender a existência das seguintes rotinas: 1) investigar, 2) brincar, 3) caçar e a mais impressionante de todas, 4) criar percursos.
A experiência plástica corporal, como gosto de chamar, se deu primeiramente por buscar entender e experimentar no meu corpo como essa caminhada felina se dava. Obtive apoios contralaterais para um movimento visualmente homolateral, e percebi que era mais complexo do que de fato parecia, pois essa realidade se dá com segurança devido justamente ao equilíbrio que lhe possibilita a dita cuja da longa coluna vertebral. Nunca invejei tanto uma cauda como invejei neste dado momento. E foi justamente o fato de não possuir tal segmento no corpo que me fez estratejar a abstração do movimento, o que aconteceria independente de qualquer coisa pela questão artística que me toma. Abstrair a qualidade de deslocar-se no espaço. Embora não tenha uma cauda, tenho uma cabeça, e por assim dizer, pensei em utilizar como a minha referência de equilíbrio, invertendo a lógica mais potente no gato. Assim, já era possível conceber a primeira rotina, "investigar", deslocamento contínuo considerando pausas e retomadas.
Em seguida, fui "brincar". E tive que experimentar a soltura, relaxamento total e parcial das partes do corpo. Suspensão e queda rente ao chão e em sua maioria com amortecimento; também torções e impulso simultâneos. A cabeça sempre orientando a direção do corpo e enfatizando a conexão cabeça-"cauda".
E fui à "caça", que é uma ponte para a quarta rotina, e se dá pelas corridas. Estabeleci-as em pé para conseguir a agilidade, característica que não havia como burlar. Para conseguir manter a sensação da conexão chave escolhida e conseguir velocidade, coloquei a cabeça numa condição levemente inclinada para frente tão quanto o tronco em condição de desequilíbrio contínuo, de forma a não delimitar a direção como "frente", mas colocar o corpo na condição de tirar do chão a potência de avançar com velocidade e colocar isso em evidência.
Por último, o "percorrer ou criar percurso", a astúcia do gato de se cobinar por inteiro em sua capacidade corporal: correr, saltar, girar, agarrar, rolar, tudo isso em deslocamento contínuo e ágil. Diante de tal problemática, eu fui recorrer a outras relações que poderia fazer, e peguei como referência de continuidade, o Le Parkour, uma arte desenvolvida à partir da idéia de se superar qualquer obstáculo de percurso com quaisquer movimentos, o mais rápido e de forma mais eficiente possível. O Parkour -"arte do deslocamento"-, têm várias referências de idealização, entre elas, as artes marciais e o méthode naturelle (Método Natural de Educação Física). Minha pesquisa teórica e experimental continua à partir deste ponto para traçar esse percurso.
O homem certamente nunca saberá o que se passa pela mente de um gato, mas pode aprender muito com ele.
“Por detrás do belo focinho e do olhar penetrante do gato há sempre algo de perturbante e insondável – um âmago exótico e secreto, eco de uma ligação ancestral a cultos sagrados e à necromância. Os gatos são magia pura.” – in “Grande Livro do Gato” – David Taylor
Comecei logo de início constatando movimentos (séries) de rotina. A gatinha dorme entre 16 a 18 horas diárias, mas dorme em várias porções. Ao acordar, senta-se, levanta-se, esprigaça-se, e muitas vezes deita e dorme novamente. Quando não isso, pude compreender a existência das seguintes rotinas: 1) investigar, 2) brincar, 3) caçar e a mais impressionante de todas, 4) criar percursos.
A experiência plástica corporal, como gosto de chamar, se deu primeiramente por buscar entender e experimentar no meu corpo como essa caminhada felina se dava. Obtive apoios contralaterais para um movimento visualmente homolateral, e percebi que era mais complexo do que de fato parecia, pois essa realidade se dá com segurança devido justamente ao equilíbrio que lhe possibilita a dita cuja da longa coluna vertebral. Nunca invejei tanto uma cauda como invejei neste dado momento. E foi justamente o fato de não possuir tal segmento no corpo que me fez estratejar a abstração do movimento, o que aconteceria independente de qualquer coisa pela questão artística que me toma. Abstrair a qualidade de deslocar-se no espaço. Embora não tenha uma cauda, tenho uma cabeça, e por assim dizer, pensei em utilizar como a minha referência de equilíbrio, invertendo a lógica mais potente no gato. Assim, já era possível conceber a primeira rotina, "investigar", deslocamento contínuo considerando pausas e retomadas.
Em seguida, fui "brincar". E tive que experimentar a soltura, relaxamento total e parcial das partes do corpo. Suspensão e queda rente ao chão e em sua maioria com amortecimento; também torções e impulso simultâneos. A cabeça sempre orientando a direção do corpo e enfatizando a conexão cabeça-"cauda".
E fui à "caça", que é uma ponte para a quarta rotina, e se dá pelas corridas. Estabeleci-as em pé para conseguir a agilidade, característica que não havia como burlar. Para conseguir manter a sensação da conexão chave escolhida e conseguir velocidade, coloquei a cabeça numa condição levemente inclinada para frente tão quanto o tronco em condição de desequilíbrio contínuo, de forma a não delimitar a direção como "frente", mas colocar o corpo na condição de tirar do chão a potência de avançar com velocidade e colocar isso em evidência.
Por último, o "percorrer ou criar percurso", a astúcia do gato de se cobinar por inteiro em sua capacidade corporal: correr, saltar, girar, agarrar, rolar, tudo isso em deslocamento contínuo e ágil. Diante de tal problemática, eu fui recorrer a outras relações que poderia fazer, e peguei como referência de continuidade, o Le Parkour, uma arte desenvolvida à partir da idéia de se superar qualquer obstáculo de percurso com quaisquer movimentos, o mais rápido e de forma mais eficiente possível. O Parkour -"arte do deslocamento"-, têm várias referências de idealização, entre elas, as artes marciais e o méthode naturelle (Método Natural de Educação Física). Minha pesquisa teórica e experimental continua à partir deste ponto para traçar esse percurso.
O homem certamente nunca saberá o que se passa pela mente de um gato, mas pode aprender muito com ele.
“Por detrás do belo focinho e do olhar penetrante do gato há sempre algo de perturbante e insondável – um âmago exótico e secreto, eco de uma ligação ancestral a cultos sagrados e à necromância. Os gatos são magia pura.” – in “Grande Livro do Gato” – David Taylor
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