A partir dos estudos de Alexander e Feldenkrais, Marcia Strazzacappa, em um de seus artigos, conclui que: “A cabeça é tida como o centro de orientação, pois ela comporta os pares receptores, como os olhos, as orelhas e o nariz (com suas duas narinas). Nós percebemos o mundo de forma simétrica por meio de nossos receptores; assim nossa cabeça gira automaticamente na direção da fonte de estímulo para olhar, ouvir ou cherar de forma equilibrada. O resto do corpo segue automaticamente esse movimento da cabeça; logo, a cabeça é o centro de orientação”. Partindo deste conceito, toda a minha pesquisa de movimento sera baseada nos sensores humanos e na percepção dos estímulos físicos do ambiente.
Estímulo físico é qualquer alteração externa ou interna que provoca uma resposta fisiológica ou comportamental num organismo. Estímulo, por exemplo, são as variações de pressão do ar movimentando o tímpano, a luz sensibilizando a retina, as moléculas no ar estimulando o olfato, etc. Do ponto de vista físico, estímulo pode ser mensurável, e substâncialmente excita os aparelhos sensoriais da mesma forma em todos os indivíduos. Por exemplo, um som de 3 kHz produz 3 mil oscilações em um segundo, este som estimula os tímpanos de todos os indivíduos a sua volta vibrando-os 3 mil vezes por segundo. É fato.
Diferentemente, a percepção é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de histórico de vivências passadas. Através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste na aquisição, interpretação, seleção e organização das informações obtidas pelos sentidos.Nossa percepção esta intimamente atrelada aos limiares do sensor. O limiar de sensibilidade é a quantidade mínima de estímulo necessária para que um sensor o perceba. O limiar de saturação, por sua vez, é a quantidade máxima de estímulo que o órgão sensorial suporta, muitas vezes atrelada a dor ou perda permanente do órgão sensorial. Já o limiar de diferenciação é a quantidade de estímulo necessária para que o organismo receptor perceba um crescimento ou um decrescimento progressivo da excitação. Por exemplo, a quantidade de som necessária para que o indivíduo perceba nitidamente que ouve um aumento ou diminuição do mesmo.
Outro fato físico importante para minha pesquisa é o efeito de precedência ou efeito hass, relacionada a audição. É através deste fenômeno que percebemos espacialmente o som, ou seja, “de onde o som vem”. O efeito hass é o fenômeno psicoacústico que permite identificar corretamente a origem de um som percebido por ambos ouvidos, mas que os alcançam em momentos diferentes. Se o ouvido direito percebe primeiro, o som vem do lado direito.
Minha intensão nesta pesquisa é evidenciar e estimular o órgão sensorial auditivo, percebendo os estímulos sonoros naturais do ambiente (sem música) e partindo dele todo o movimento da cabeça e consequentemente do corpo. Por serem sons naturais, são 100 % aleatórios, tornando o experimento coreográfico também essencialmente randômico. Para previlegiar a audição, a estratégia adotada foi tentar minimizar ao maximo os outros sensores, fechando os olhos e “descartando” o tato, o olfato e o paladar. Ao anular alguns sentidos é fácil entender que alguns fatores fisiológicos, antes totalmente dominados, se perdem, tais como o equilibrio e a percepção espacial.
Levando-se em conta todos estes fatore, a movimentação esta intimamemte ligada com a sonoridade do ambiente e a sua percepção. Exemplificando, se há som forte, o movimento é forte, se há som fraco, o movimento é suave, se há som continuo, o movimento é ligado, se há som curto, o movimente é stacatto, de acordo com o envelope do som. O movimento começa a se deliniar a partir do limiar de sensibilidade, ou seja, é necessário que o som seja suficientemente percebido para que haja movimento. Também, levando-se em conta o limiar de diferenciação, o movimento se desenvolve (se altera) a partir da mudaça de intensidade do som. Caso haja sons com intensidades proximas ao limiar de saturação no ambiente, a movimentação sera de repúdio, afastamento, uma vez que estímulos próximos ao limiar de saturação são extremamente agressivos ao sensor, podendo inclusive causar surdez permanente. Além da qualidade de movimento, o som ainda orienta a disposição cênica da experimentação, ou seja, se há sons na esquerda, toda a movimentação seguirá para a esquerda, partindo da cabeça, mencionada anteriormente como sendo o centro de orientação.
Resumidamente, a estética do experimento se concentra na tradução quase que literal dos estímulos sonoros em um determinado ambiente, na tentaviva de anular os outros estímulos.
FRANCIELE PASTURCZAK
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