segunda-feira, 5 de julho de 2010

GÊNESE



“Gênese” diz respeito ao segundo trabalho proposto pela professora Rosemeri Rocha na disciplina de Composição Coreográfica I do curso de Dança da Faculdade de Artes do Paraná.

Aos eventuais leitores, atualizo que tal trabalho se trata da continuidade da proposição “Pegadas de uma Coluna Vertebral” (1) apresentada na mesma disciplina ao término do primeiro bimestre deste ano.

O processo nesse segundo momento teve como ponto de partida o questionamento sugerido pela própria professora: qual o assunto que tratávamos nessa composição coreográfica? A resposta só veio à tona algumas semanas depois, a partir da discussão do trabalho de outra acadêmica. Meu assunto era EU mesma! De onde vim? Quem sou? Qual meu papel no mundo? Para onde irão (...e se virão) meus descendentes? Simplesmente elementar e complexo.
Por onde terá passado o sangue que me corre?
Por quantos heróis desconhecidos viajei?
Por quantas terras pisei?
Por quantos olhos os meus pousei?
Por quantos lábios minha língua aqueci?
Por quantas lágrimas escorri?
...Ah por quantas rajadas de vento meus cabelos foram badernados?
Por quantas danças me entreguei?
Por quantas horas pari?
Por quantas noites quis morrer?
Por quantos dias morri?
Por quantos sóis quis viver?
Por quantos entardeceres (re) nasci?
E por mais quantas chuvas, com ignorância e sapiência me perguntarei: Por onde terá passado o sangue que me corre?
eu.
eu atrás. eu ao lado. eu à frente...
eu sempre NÓS, e sempre tentando ser eu.
NÓS... Tão claro quanto a claridade da lua e das estrelas balseando sobre o rio, e eu, na minha estúpida grande pequenez, insistindo em ser eu, enquanto sou tudo e simplesmente NÓS. (2)

Em seguida, paralelo aos nossos laboratórios particulares nos foi sugerido que procurássemos um vídeo de dança que tivesse em convergência ou que de alguma forma se aproximasse com a nossa pesquisa. Depois de algumas buscas virtuais e vasculhadas nas minhas memórias, lembrei-me do trabalho do artista Ney Morais da Cia Municipal de Dança de Caxias do Sul, intitulado “Linha Aberta” (3), que definitivamente reforçou e nutriu a continuidade da composição, por tratar através da dança contemporânea a dimensão interior do indivíduo em confronto consigo mesmo e com o outro.

O passo seguinte foi a busca por uma música que dialogasse com o assunto central da partitura pesquisada. Para esse momento estabeleci relações com as matrizes musicais brasileiras, dos povos originários de Pindorama. A música selecionada “Mito – Metumji Iarén” de Marlui Miranda do disco “Marlui Miranda – Ihu Todos os Sons” foi levada ao estúdio para que não só os meus laboratórios fossem estimulados por ela, como também as experimentações dos outros da turma. Nesta fase da pesquisa ficou evidente o foco da movimentação no tronco com a base nos pés enraizados.

Finalmente, a última ferramenta utilizada para clarear a partitura foi a imagem da dupla espiral do DNA. Na intenção de focalizar para aquilo que era mais micro, mais particular, mais radical na minha constituição enquanto ser vivo me aproximei da idéia da dupla espiral do DNA, por ser a estrutura que contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos e alguns vírus.

O resultado desse processo foi uma partitura de movimentos calcada sobre a base fixa dos pés, e a crescente movimentação espiral/circular de mãos, braços, cabeça, tronco, quadril e joelhos, novamente movimentos de um corpo/indivíduo/história.

SYLVIANE GUILHERME

2 -A autora, 25 de outubro de 2005.
4 - Imagem: "Espiral" Melissa Oliveira http://br.olhares.com/espiral_foto962296.html

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