Composição: Roberto Mendes
Interpretação: Elba Ramalho e Gabriel, O pensador
Qual o assunto que mais lhe interessa?
Qual o assunto que mais lhe interessa?
Além da vida in vitro feita nas coxas
E vivida às pressas
A empresa da guerra
A mais-valia da morte
A última sentença
A violência nas ruas
O bio terrorismo
A soja transgênica
Clonagem da mente
Dos órgãos vitais
A nova ciência
Moral decadente
Tradição milenar
Outra tendência
Suicídio, livre arbítrio
Aborto consentido, eutanásia
A dívida congênita
O quinto partido, o tempo
Das máquinas
Monarquia playback
A república inventa
O eclipse lunar,
a decadência moral
A calota polar, o império dos egos
O vidente cego, o cachimbo de Édipo
A paixão de Romeu, colapso dos mares
Crianças sem lares, a ausência de Deus
A assembléia dos loucos,
O juízo dos lobos
A vontade dos céus
A escala econômica em que o crime compensa
Qual o assunto que mais você pensa?
Sexo, amor, culpa ou inocência
A dieta do Papa, o segredo de Fátima
A última penitência
Bom dia Vietnã, boa noite Bagdá
Adeus Sherazade
Qual o assunto que mais lhe interessa?
Qual a verdade em que mais você pensa?
O fim da natureza
E o final da história
Glória, glória, glória?
Apenas uma canção invento agora
Um poema
A madrugada é silêncio, a dor acalenta
Esquece o início de tudo e o fim dos tempos
Deita no colo de tua amada
Onde da misteriosa expansão do nada
O universo se alimenta
Qual o assunto em que mais você pensa?
Qual é a verdade em que mais você sente?
Qual a mentira em que mais acredita?
Qual é o nome que você mais grita?
Qual é a força que mais te enfraquece?
Qual é a fome que mais te alimenta?
Qual é o prato que mais te apetece?
Qual é o mapa que mais te orienta?
Qual é o jogo que mais você ganha?
Qual é o ganho que mais te enriquece?
Qual é a perda que mais você chora?
Qual é a casa em que mais você mora?
Qual é a frase que mais você fala?
Qual é a fala que mais você cala?
Qual é o assunto que mais você teme?
Qual é o tema que mais ignora?
Qual o assunto que mais lhe interessa?
http://www.vagalume.com.br/elba-ramalho/tempos-quase-modernos-qual-o-assunto-que-mais-lhe-interessa.html#ixzz1Z6QecTU2
Bem pessoal, para quem está aqui de passagem esse texto trata de relatar (ou colocar parcialmente) aspectos da pesquisa realizada para finalização da matéria composição coreográfica 2 do curso Bacharelado em Dança da Faculdade de Artes do Paraná. Meu trabalho é prático e teórico, e coloca questões sobre a crise da identidade na pós-modernidade.
Coloquei essa música na introdução do texto porque eu a conheci nesse bimestre, e ela me fez muito sentido levando em conta tudo o que eu tenho vivido e estudado. Cheguei a ela de um jeito muito bonito, através de uma dança que fui fazer casualmente no show do homem que a compôs. Foi uma experiência estonteante, o show e principamente estar do lado de um homem, não tão velho, mas muito sábio, com um coração muito antigo, através dele senti um alento, pois neste bimestre estudei muitas coisas, li muito, vi filmes, ouvi músicas e chorei outro tanto (proporcional ao tanto de informação ao qual me submeti). Porque há coisas impossíveis de se aprender sem chorar...
Mas continuando, através das informações com as quais tomei contato cheguei a questão do que se pergunta. Pois é impossível tratar de identidade sem se fazer perguntas... porém, a questão que fica é: O que eu pergunto? Do que eu duvido? Com o que concordo? Do que eu discordo? O que chama minha atenção? O que me gera curiosidade?... Enfim, parafraseando: Qual assunto que mais me interessa?
São perguntas grandes feitas para serem vividas e tocarem nosso raciocínio/coração em profundidade...
Pois muitas das coisas que li me fizeram tentar entender qual foi(ram) a(s) dúvida(s) que moveu(ram) àquele ser humano a destrinchar o determinado assunto... A questão da dúvida me veio, não como uma forma vazia de racionalizar o mundo, mas como uma sensação de responsabilidade sobre o ato de estudar, de criar arte, de viver... a dúvida, o grande motor de tudo...
E aqui começo a lançar, e você caro leitor? que respostas daria às perguntas existentes nesse texto? O que te interessa no mundo? O que o faz empregar minutos da sua vida lendo minhas palavras? De onde vêm suas perguntas? Elas são realmente suas? Ou foram criadas por lentes que tomaram os seus olhos no sono móvel do cotidiano em ritmo de aço? O quanto você escolhe seus temas de vida? E o quanto você questiona as idéias que te tomam a mente? Como você às seleciona? Você às seleciona?
Seguindo a reflexão, segundo o material que tenho estudado, duvidar da ordem estabelecida, desnaturalizar o que está posto é uma forma muito eficiente de se obter transformações... No entanto, nosso mecanismo social, age no sentido contrário, na intenção de obliterar nossa visão, buscando neutralizar ou reduzir em grande escala nossa capacidade de questionar. E não é exagero, segundo A. Moles, as técnicas utilizadas nas grandes redes de distribuição da informação corrente em nosso mundo, seguem algumas regras básicas:
1- Situar sempre o nível do que é dito em uma taxa de inteligibilidade correspondente a um quociente intelectual de, aproximadamente, 10 pontos abaixo do quociente médio do nível social que se quer atingir.
2- Não solicitar do ouvinte nenhum esforço de memória ou tenacidade.
3- Dispor a produção de tal modo que não importa quem possa, nem quando possa, se conectar com ela numa fração inferior à da memória instântanea (6 a 8 segundos).
Gostaria de chamar sua atenção ao fato de que, o texto citado, foi escrito em 1967, e que essas técnicas de disseminação e controle da informação foram aplicadas e aprimoradas até os nossos dias, podemos concluir entre outras coisas que nossa lógica de raciocínio, à algum tempo, vem sendo moldada por esse tipo de organização, e então fica a pergunta: como se forma o sujeito que está em exposição constante à essa organização empobrecida de comunicação? A que serve essa comunicação, por conta de que necessidades ela existe?
Moles também nos coloca que essa forma de organização da informação se dá em vários níveis, e a cada classe social ela é destina sob uma forma que se afine mais com os sujeitos que se quer atingir, então teremos vários “tipos” de massas, cada uma recebendo o nível de informação que interessa para a manutenção da “roda-viva” do consumo na nossa sociedade.
Deixo então essas perguntas ecoando e o início de uma reflexão muito profunda, para quem quer investigar o assunto, os textos que me fizeram escrever isso são:
- Doutrinas sobre a cultura de massa. Abraham A. Moles.
- A indústria cultural: O iluminismo como mistificação de massa. Max Horkheimer e Theodor W. Adorno.
Presentes no livro Teoria da Cultura de Massa, da editora Paz e Terra, com textos selecionados por Luiz Costa Lima, em 1990 (tem na biblioteca da FAP).
Para quem quiser escutar a música: http://www.youtube.com/watch?v=4wKGDpv472o
Rose Mara Silva
Graduanda 4ºano Bacharelado em Dança