Roman Jakobson cunhou a terminologia “tradução intersemiótica” quando dividiu as traduções em três tipos:
- Intralingual, ou paráfrase, que é reescrever um texto a partir dos signos de uma mesma língua.
- Interlingual, que seria passar um texto de uma língua para outra língua.
- Intersemiótica, ou transmutação, que é a interpretação de signos textuais por outros signos não-verbais.
Seu conceito foi bastante generalista, mas abriu margem a diversos estudos posteriores.
Tradução intersemiótica é um termo complicado. Gera logo indagações sobre o que é e do que se trata. É muito simples definir. Trata-se de adaptação. Quando adapta-se um conto, um livro, uma história para o cinema, televisão ou outros, estamos falando diretamente
A área de Intersemiótica estuda os trânsitos de signos entre esses meios. Exemplos são as traduções da literatura para o cinema (ou vice-versa), para televisão, para a dança, etc. Textos que viram espetáculos de dança.
Segundo Mara Lúcia Diniz (Professora do Departamento de Ciências Humanas, atua nos cursos de Jornalismo, Radialismo e Relações Públicas e coordena o Grupo de Estudos Semióticos /GES/ da UNESP), apesar de sua aparente modernidade, a tradução intersemiótica é um diálogo quase eterno entre as artes.
Os filmes Emma, Razão e sensibilidade, Orgulho e preconceito, são traduções intersemióticas dos romances escritos de Jane Austen. O ballets de repertório Giselle, La sylphide, dentre outros, são traduções de libretos e contos medievais do período. No primeiro caso, a literatura transposta ao cinema, e no segundo, a literatura transmutada ao corpo.
Convivemos com traduções o tempo todo.
Mas tais “re-leituras” trazem consigo implicações de relação. O que enriquece uma tradução? Quais os meios de análise? O que se perde da informação original?
Existem diversas maneiras de se analisar uma tradução, diversas formas de abordar uma obra traduzida e várias formas de se traduzir. Os caminhos que a norteiam podem ser diversos e alguns fatores são relevantes para análise: onde está sendo traduzida, quando, para que meio (inter) e quem será o tradutor.
O importante é não criar expectativas quando se vê uma tradução intersemiótica. Ela pode ser abordada de formas diversas e com isso tecer relações diretas ou indiretas com a obra, denível similar/análogo, tradutório ou convencional, conforme veremos no próximo capítulo.
Há três formas de tradução intersemiótica, e são baseadas na tríade de signos referente ao objeto de Peirce: ícone, índice e símbolo. Segundo Plaza, existem três categorias em que se enquadram:
· Icônica: semelhança de estrutura;
· Indicial: presença do original na tradução;
· Simbólica (transcodificação): busca referências convencionais com o original.
A tradução icônica seria a que tende a aumentar taxa de informação estética. Mantendo similaridades materiais, qualitativas e de aparência. Despertando sensações de analogia com a obra. Uma TRANSCRIAÇÃO. Por analisar o ícone, está desprovida de conexão dinâmica com o original que representa. A taxa estética aqui varia de acordo com contextos sociais diversos, sendo entendíveis somente entre comuns.
A tradução indicial está ligada ao contato da obra original e a tradução, transformando a qualidade do objeto imediato pelo meio escolhido pela tradução em questão se tratando de uma TRANSPOSIÇÃO.
A tradução simbólica é feita através de metáforas, símbolos ou outras convenções. Aludem-se os caracteres do objeto imediato, essência do original.
Uma obra traduzida jamais será impreterivelmente icônica, indicial ou simbólica. Permeará duas ou até mesmo as três classificações.
A tradução é um processo de re-leitura, não apenas uma transformação. É sempre necessário adaptá-la a nova linguagem proposta. Sendo assim, a tradução se consolida como uma obra autônoma, feita a partir das escolhas e percepções do tradutor diante a obra analisada.
A tradução pode não ter o intuito de ser literal, utilizando-se das características do sistema semiótico escolhido para se fazer entendível.
Segundo Thais Dinis, a tradução situa-se, pois, na interseção, no entrecruzar desse social partilhado pelo emissor e pelo receptor do novo signo constituído pela tradução.
REFERÊNCIAS
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977. Coleção Estudos, nº 46.
_____. Semiótica e Filosofia. São Paulo: Cultrix, 1975.
PLAZA, Julio. Tradução intersemiótica. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003. Coleção Estudos, nº 93.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2003. Coleção Primeiros Passos, nº103.
_____. Semiótica Aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
_____. A teoria Geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem e comunicação. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
DINIZ, Thais Flores Nogueira. A tradução semiótica e o conceito de equivalência. Disponível em: <http://www.thais-flores.pro.br/artigos/PDF/A%20Traducao%20Intersemiotica%20e% 20o%20 Conceito.pdf> Acessado em 03.02.2011.
Israel Becker
Bailarino, coreógrafo, pesquisador do movimento e graduando no 4º ano /curso de dança/ pela Faculdade de Artes do Paraná
Nenhum comentário:
Postar um comentário