quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um Percurso de Gato


UM GATO EM PERCURSO - Caroline Natalie Stroparo
 
Gato. Antropologicamente desgarrado de líder, senhor de si. Busca a solidão e a companhia na medida em que precisa delas. Não importa quem o alimente, em convivência com os homens, ele escolherá alguém para si na medida em que se identifica com este, e sua personalidade se expressará demostrando sua maleabilidade em assemelha-se em temperamento com a pessoa escolhida, com quem busca aprender e socializar-se. doações, ele negocia, ele troca.
Minha gata é uma grande negociante: se ela quer afeto, dá afeto e espera retorno; se quer atenção, observa-me até que eu a olhe; se eu a alimento, ela agradece, e se ela pudesse caçar, com certeza faria o que muitos gatos têm hábito de fazer, deixar uma preza morta na porta de casa como contribuição para a alimentação da família.
Minha gata, quando se aborrece, se ausenta para não brigar, mas se não concorda, ela se enerva e reclama de diferentes formas, parece prezar por entendimento, da mesma forma, parece admitir às vezes que traíra a política da casa.
Uma coisa é certa o gato escuta sempre, mesmo dormindo, e muito bem, mas às vezes prefere responder mais tarde. O fato é que gato é sábio, sabe viver muito bem e não ser prisioneiro de valores ou responsabilidades morais. Tem gato que gosta de pregar susto, tem gato que gosta de chupar lã, tem gato que dorme de barriga para cima, tem gato que nunca dorme assim. Tem gato de todo jeito nesse mundo.
O gato é engraçado, ele se reconcilia quando preza pelo afeto, mesmo quando não se convence das razões que você argumenta em afirmativa dele estar errado. Sim, o gato sabe conviver, mas tem de fato sua própria moral, sua própria opinião. É engraçado pensar, mas os gatos parecem ser naturalmente muito politizado.

Depois de algum tempo observando, pesquisando e buscando “experimentar o gato” no meu corpo, desenvolvendo um trabalho de abstração e linguagem, comecei a focar por um tempo a minha pesquisa para a questão do movimento em si. Utilizando o Sistema Laban/Bartenieff, fui organizando e construindo toda uma análise a cerca dos fatores do movimento e como ele se mostravam em meu trabalho de investigação do movimento. Comecei a analisar minhas sensações musculares, a desenvolver conexões para organizar esse padrão de corpo e movimento. No entanto, o meu trabalho passa por uma fase derradeira de escolhas. Não quero falar sobre organização de corpo, não quero me voltar para explicar como faço para executar esse ou aquele movimento, não, isto não me importa publicar. Importa-me sim, o ideal estético desta obra. Importa-me compreender melhor sobre o que me leva a esta idealização e como posso malear isto em minha prática, em como me aproprio dela. Por isso, inicio agora uma corrida apaixonada pela Estética e Filosofia. Minha introdução neste universo se faz no momento pelas palavras de Henri-Pierre Jeudy, sociólogo da LAIOS, professor de estética, e autor de vários livros. Rapidamente estou mergulhando em seu livro O corpo como objeto de arte, e vou construindo relações e constatações sobre o tema.
Assim, embarco numa busca quase religiosa em compreender e fortificar o um ideal estético em palavras, tentando decifrar o paradoxo de que “o corpo é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto das representações”, e de como “o corpo poderia existir fora das representações que dele fazemos”.

Um comentário:

  1. É muito interessante como a observação de comportamento dos animais pode nos levar a muitas conclusões sobre o comportamento humano. Embora saibamos que os valores e significados atribuídos aos comportamentos observados são elaboração nossa, os animais a fazem por existirem e pronto. Mas essa escrita da Carol nos aproxima muito do bicho a ponto de nos vermos nele, e pensar se faríamos igual ou diferente...
    Vejo nesse texto a importância da maturação do processo, que se dá na caminho percorrido e a percorrer pois os assuntos vamos decidindo e elaborando no durante mesmo, há uma intenção inicial e ela vai se delineando de acordo com as mudanças a aprendizagem ocorrida durante o processo artítico opera em nós...
    Me identifico muito com essa trajetória da Carol e a parabenizo pela sensibilidade da observação do bicho... que nos faz ver o bicho em nós...

    Rose Mara da Silva

    ResponderExcluir