Quando comecei o trabalho de composição coreográfica sabia que queria fazer algo na interface de dança e literatura, mas o tema foi só se delimitando e tomando um rumo à partir de tentativas.
A obra escolhida é o conto A peque Sereia de Hans C. Andersen uma vez que o conteúdo desta é muito autobiográfico, e reconheço este aspecto com minhas experiências, angustias e expectativas pessoais. A partir daí algumas características da obra foram escolhidas para ser desenvolvidas. Não é meu objetivo traduzir esta obra cheia de metáforas para a linguagem da dança e nem elencar ou justificar neste texto as características da obra escolhidas para o trabalho.
A partir destas escolhas feitas era preciso escolher procedimentos, e alguns destes foram tomando forma no próprio repetir da ação, e outros por algumas leituras e reflexões.
Primeiro pensei em destrinchar o conto, seja estruturalmente seja procurando as relações da protagonista e do autor. A estrutura do conto é linear, ou seja, tem início, meio e fim, mas o que mais característico dele é que possui 3 momentos. A tentativa agora é que a criação também mantenha esta forma, não narrando corporalmente o enredo da estória da sereia, mas expondo as características mais marcantes da obra.
Para estruturar este trabalho a fundamentação passou por dois grandes eixos de pensamento. Busquei definições e alegorias do processo de composição coreográfica como o processo de tradução, utilizando autores como sob o viés de tradutores como Haroldo de Campos e sob o viés da semiótica de Pierce e de Umberto Eco. A presente pesquisa não se enquadra na palavra tradução como algo que mantém a semelhança de estrutura, mudando apenas a modalidade e gerando um produto, segundo Umberto Eco, “Quase a mesma coisa”. A categoria de tradução intersemiótica de Pierce que mais se aproxima da minha pesquisa é a transcodificação, mas a intenção é que tenha traços de tradução indicial uma vez que quero de alguma forma, manter a presença do original no processo de composição coreográfica.
A inovação no processo foi notar como o processo criativo de se criar uma poesia se assemelha em demasia com o de criar uma coreografia. Ambos precisam escolher elementos de potência. Se vivemos na era de “uma imagem vale mais que mil palavras” acho que as definições da poesia Imagista de uma metapoesia de AlrchibaldMcLeish pode se aplicar o modo de ver minha composição.
“A poem should be equal to, not true” ( um poema deve ser equivalente à, não a verdade)
“a poem should not mean but be” ( o poema não tem que significar, mas ser)
Inês Saber, graduanda do Curso de dança da FAP
Os processos de tradução, de um meio a outro, são instigantes e interessantes. A tradução intersemiótica é ainda uma novidade nos meios artísticos (com esse nome e analisada com esta nomenclatura). Desde sempre teceram-se traduções desta ordem. O interessante nesse comentário, é a forma como a autora decide analisar o conto em questão, seus processos de escolha e seleção de informação e qual o teor serão transcodificados. Dependendo do prisma da análise, pode-se perder muito do original, ou mante-lo, conforme relatado pela autora. Como minha pesquisa permeia o mesmo tema, é muito interessante analisar como outra pessoa, com outra forma de ver/perceber/questionar a tradução intersemiótica disserta sobre o tema.
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