Tanguillos diz respeito ao quarto trabalho proposto pela professora Rosemeri Rocha na disciplina de Composição Coreográfica I do curso de Dança da Faculdade de Artes do Paraná.
Tendo como base o Estágio Supervisionado em Dança Bacharelado realizado na Cia Profissional Carmen Romero Dança Flamenca durante o corrente ano, venho compartilhar minhas análises e reflexões acerca dos processos de criação coreográfica de uma da obras que dancei.
Tanguillos trata-se de um ritmo flamenco bastante rico e versátil, apresentando muitas variações em suas interpretações nas diversas regiões da Andaluzia. Como regra comum, Tanguillos é um palo/ritmo com compasso quaternário bem marcado, tendo o cante/canto usualmente alegre e festeiro.
A Dança Flamenca possui uma formatação característica para cada palo. Alteram-se desenhos coreográficos, ordem e combinações dos passos, mas de uma forma geral, existe uma lógica construída cultural e historicamente que é mantida nas composições coreográficas: momento para se sapatear, para chamar o cantor, para o solo da guitarra, para a entrada do baile.
Tanguillos, especificamente, foi uma obra criada pela própria Carmen Romero para o Espetáculo De Colores apresentado nesse mesmo ano. A criação não foi compartilhada com as bailaoras, e tampouco tivemos acesso direto às pegadas (como diz Cecília Salles em “Gesto Inacabado”) deixadas pela criadora do processo de criação da coreografia.
Apesar dessa aparente impossibilidade de interferência na obra, continuamente éramos estimuladas a nos apropriarmos das movimentações, e buscarmos relações que pudessem potencializar o que comunicávamos. Rosa Hércoles em “Corpo e Dramaturgia” aponta que há reconfigurações e outras organizações no corpo que dança, e que por si só isso já apresenta significado. A coreógrafa propunha que forma e sentido coexistissem na obra, e que dessa modo, corpo e ambiente estivessem em constante troca. Realmente, bailaores, cantes, guitarristas e palmeros são indissociáveis na Dança Flamenca.
Em suma, a experiência de criação, mesmo que menos compartilhada do que habitualmente vem sendo difundida na academia, possibilita a compreensão de que as obras não acontecem em um insight, como reforça Salles, mas sim como uma rede de registros, materiais, manuscritos que juntos compõem um processo artístico, e por fim a obra.
Sylviane Guilherme
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