sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

WE CAGE – PROCESSO DE CRIAÇÃO



We Cage é o mais recente trabalho realizado pela PIP – Pesquisa em Dança, na qual cumpri meu estágio de bacharelado. Trata-se de um espetáculo que reuniu a parceria dança/tecnologia para revisitar a obra de Merce Cunningham e John Cage, Variations V, de 1965, primeira obra de dança e tecnologia considerada historicamente.

A referência à Variations V, se deu em duas principais características e aconteceu da seguinte maneira:

Pelo estabelecimento de parâmetros de movimento – a obra de Merce Cunningham, (não só Variations V, mas todas as outras também) possuem parâmetros bem claros, são eles curv (curva), arch (arco), twist (torção) e tilt (inclinação), usados essencialmente na vertical (em pé) em movimentos bastante parecidos com os da técnica do balé, porém, ao invés da leveza que impera na verticalidade da técnica clássica, Cunningham nos traz o peso, sendo assim, a acentuação dos movimentos realizados pelos bailarinos é sempre para baixo, ou saindo de baixo para cima (up right). O que fizemos na PIP foi utilizar esses mesmos parâmetros de movimento, curva, arco, torção, inclinação e de baixo para cima, só que na horizontal (deitadas).

Adoção de processos randômicos na realização do espetáculo – Tanto Cunnningham quanto John Cage realizavam suas obras a partir de processos randômicos, ou seja, processos aleatórios, realizados em sua maioria das vezes por sorteio.

Então, We Cage, seguindo essas duas características principais, foi construído reunindo refinados aparatos tecnológicos, como sensores sonoros de movimento acionados por peso, flexão, programas cibernéticos que trabalhavam a imagem em tempo real, numa espécie de revisitação de Variations V, estabelecendo uma relação de atualização utilizando-se dos recursos tecnológicos que temos hoje.

Em We Cage trabalhamos com o movimento que é não há narrativas regendo o espetáculo, ou como explicaria a dramaturgista de dança Rosa Hércoles: “Na dança, a construção dramática ocorre pelo movimento – mover é agir. [...] o corpo que dança não encena algo – ele está em algo.” A coreografia reunia quatro proposições em forma de jogos, que eram decididos a partir de sorteios, esses jogos, foram inspirados em partes de Variations V.

Muito foi experimentado nesses jogos, e grande parte das configurações finais foi estabelecida junto aos programadores, pois os movimentos modificavam muito com a presença dos sensores. Os programas utilizados eram o sorteador coreográfico desenvolvido através do software Max msp; Max msp e Ableton Live em conjunto atuavam sobre o sensor de angulação, em uma cena, e em outra o Flexomêtro colocado no joelho da bailarina, disparando notas aleatórias com timbre de piano, além do usa da técnica “motiontracking” no trabalho das câmeras.

Aqui falo bastante do espetáculo, porém, We Cage trouxe a peculiaridade de nunca ser um produto final, era sempre um processo de criação se dando a ver durante os 35 minutos no qual acontecia, muito foi experimentado e como diria Cecília Sales, foi um artefato artístico surgido ao longo de um processo complexo de apropriações, transformações e ajustes, constantes.

Para mais informações visitem: www.wecageme.blogspot.com

Por Rose Mara da Silva


REFERÊNCIAS:

Corpo e dramaturgia - Rosa Hercóles, na compilação Hummus, organizada por Sigrid Nora, 2004.

Gesto Inacabado - Processo de Criação Artística, Cecília Almeida Salles, Annablume, 2004.


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