sexta-feira, 24 de junho de 2011

Samba e cultura popular

Tenho como foco para o decorrer deste texto, a cultura negra inserida no Brasil, a resistência do samba. Dos aspectos gerais, trouxa uma identidade cultural e nacional, buscando transparecer a mestiçagem e a afirmação da identidade negra no país.

Para entender o desenvolvimento cultural brasileiro, posto como foco o samba, precisamos entender e abordar a mestiçagem brasileira. Gilberto Freyre propõe em a Identidade Cultural, uma reflexão sobre os aspectos que caracterizam a mestiçagem trazendo teorias da hibridação cultural e discussões sobre a identidade cultural na pós-modernidade. Segundo André Stangl (2009), Gilberto Freyre propõe uma interpretação da miscigenação brasileira como o nascimento de um novo ser. Um ser que carrega múltiplos aspectos raciais e /ou culturais e que por descuido histórico estava renegando algumas de suas matrizes em nome de uma pretensa superioridade da pureza.

“o brasileiro crescentemente consciente de ser membro de uma sociedade e de uma cultura em grande parte tropicais, mestiças e não-européias. (...) Essa identificação implica o reconhecer-se ele homem, (...) mesmo quando em sua étnica não haja sangue ameríndio ou negro africano: ausência quase sempre compensada pela grande presença, no seu ser psicocultural, desse ameríndio e desse africano teluricamente tropicais” (FREYRE, 1971).

Para concretizar este pensamento sobre um corpo mestiço e afirmando de que nenhuma cultura é pura, aponto Stuart Hall que afirma: “em toda parte, estão emergindo identidades culturais que não são fixas, mas que estão suspensas, em transição, entre diferentes posições; que retiram seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições culturais; e que são o produto desses complicados cruzamentos e misturas culturais que são cada vez mais comuns num mundo globalizado” (HALL, 2001).

Podemos perceber que a cultura brasileira se insere neste aspecto, e que o tempo-espaço também são coordenadas para estabelecer uma relação entre o permanecer e o decorrer de cada época, relevando fatores históricos e sociais não-linear: “Diferentes épocas culturais têm diferentes formas de combinar essas coordenadas espaço-tempo” (HALL, 2011).

Buscando este ponto da mestiçagem, podemos levá-lo a análise do samba e da cultura negra no Brasil, Helena Katz afirma que:

“um corpo que samba hoje requebra diferente do samba dançado a 40 anos, quando as relações entre carnaval e televisão não eram como agora, nem tampouco o contato entre morro e cidade. Com isso, a própria noção de como era o samba e o corpo que o sambava a 40 anos também se modifica, uma vez que é com o olhar de hoje que os lembramos”.( KATZ ).

Muniz Sodré trás em seu livro Samba, o Dono do corpo relações históricas do samba e sua construção de identidade nacional e afirmação da cultura negra no Brasil: “A resposta dançada de um individuo a um estímulo musical não se esgota numa relação técnica ou estética, uma vez que pode ser também um meio de comunicação com o grupo, uma afirmação de identidade social ou um ato de dramatização religiosa”.

Assim, entendemos que a mestiçagem é a afirmação, como o reconhecimento do outro, e a partir do outro é que faço as relações no mundo. Freyre afirma que “a mestiçagem configura-se como uma nova utopia de união, pois é por haver diferença que há igualdade, e a diferenciação sempre se dá ante ao que não é conhecido ou reconhecido”

REFERENCIAS

-FREYRE, Gilberto. Novo mundo dos trópicos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.

- HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de janeiro: DP&A, 2001.

- SODRE, Muniz. Samba, o dono do corpo. 2 ed- Rio de janeiro: Mauad, 1998.

Carina Maragno Trombim

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