Entender o mundo é ser comunicado sobre ele. Compreender ações e estabelecer relações com o meio se faz pertinente a todo instante.
A maneira como entendemos o mundo, como o analisamos, catalogamos e o descrevemos, faz-se por meio de signos. Os signos são parte inerente ao aprendizado humano, e mesmo que o termo possa nos parecer distante, está mais intrínseco às nossas formas comunicacionais e inteligíveis do que imaginamos.
Segundo Charles Sanders Pierce, o ‘pai da semiótica’, signo ou representamem é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém, sob certos aspectos e em certa medida.
Idiomas são signos, imagens são signos, palavras são signos.
Com o passar dos anos, tornou-se necessário ampliar tais formas de percepção do mundo, gerando meios ‘compreensíveis’ universais: os meios de comunicação.
Os meios de comunicação nascem por inúmeras necessidades, dentre elas, com o intuito de difundir e perpetuar a informação.
Assim como a industrialização cria o mercado de consumo e a necessidade de alfabetização universal, cria também a necessidade de informações sintéticas para o grande número: o jornalismo e o livro, no século passado; o cinema, o rádio e a televisão, em nosso século. Cada um desses meios e todos eles em atrito determinam modificações globais de comportamento da comunidade, para as quais é necessário encontrar a linguagem adequada (PIGNATARI, 2002, p. 18).
Todos os meios de comunicação têm como objetivo dinamizar as potencialidades do corpo humano, sendo criados a partir de tais necessidades. O cinema e televisão, são extensões dos olhos, o rádio, iPod’s e afins, são extensões do ouvido no tempo e espaço, o computador, extensões do cérebro e suas inúmeras formas de armazenamento de informação, dentre outras. Segundo SANTAELLA (2000), o corpo é o maior instrumento de comunicação já conhecido. Todas as ramificações tecnológicas são na verdade extensões do corpo humano.
Cada um desses meios achou durante o tempo, formas distintas de relação com o mundo, linguagens específicas, formas comunicacionais, regras.
A relação da informação/comunicação, suas possíveis nuances de transformação através do olhar do tradutor será brevemente pontuado neste texto
O OLHAR DO TRADUTOR
Qual o papel do receptor/leitor/interpretante diante uma obra?
Sabe-se que toda informação, antes de ser processada e interpretada, é selecionada em nível e grau. Segundo PIGNATARI (2002, p. 21) “a interpretação do signo varia de acordo com o repertório pessoal e vivencial do interpretante.”
O tradutor, antes de ser criador da nova obra, é um receptor/leitor da que antecede o processo. Sua visão/forma de analisar a obra já está contaminada por todo seu repertório anterior, suas credulidades e conceitos estabelecidos dentro do sistema/signo em que sem encontra.
Nos estudos da tradução, é complexo analisarmos uma criação abstraindo os meios: cultural, político e social. As evoluções tecnológicas diárias contaminam o formato como analisamos uma obra, ou como o criador pensará sua criação. Não existe como se abster de tais contaminações na criação/gênese de uma estrutura, seja ela literária, cinematográfica, coreográfica, etc.
Por mais distante que se pretenda estar de relações periféricas, os conceitos sócio-econômicos-culturais estão intrínsecos na forma de pensar do tradutor. Mesmo que a intenção seja não pensar em política, seu corpo é político por co-existir no meio, e assim sucessivamente. Mas isso seria assunto para outro artigo.
A primeira seleção da obra se faz aqui: como o leitor foi tocado pela obra, que tipo de relações serão estabelecidas, como ela faz sentido para ele, quais artifícios e qual o domínio técnico/intelectual ele dispõe para a tradução.
As relações de escolha e seleção são igualmente analisadas nesse lugar.
Segundo Pignatari (2002, p. 22), “o significado é uma relação entre o interpretante do emissor e o interpretante do receptor; é uma função dos receptivos ‘repertórios’, confrontados na prática efetiva dos signos.”
A fusão das ideias do emissor (escritor da primeira obra), com a forma de análise do receptor (tradutor) é o que fará ‘única’ a tradução. Cabe ao tradutor, dentro do seu processo de seleção de informação e adequação ao meio proposto, ponderar quais caminhos nortearão sua obra, sua leitura.
REFERÊNCIAS
Israel Becker
Bailarino, coreógrafo, pesquisador do movimento e
graduando do curso de dança da Faculdade de Artes do Paraná
(Este texto faz parte de uma pesquisa inscrita no Programa de Iniciação Científica da Faculdade de Artes do Paraná /2010-2011/, intitulada INTERSEMIOTICIDADE: TRADUÇÕES E TRADUTOR, apresentada no 6º Seminário de Pesquisa em Artes da FAP)
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